Por Rubens Saraceni
Introdução:
Uma
das maiores dificuldades para os médiuns umbandistas encontra-se no
campo dos assentamentos de forças e de poderes que lhes darão a
sustentação, a defesa e o amparo em seus trabalhos ou em suas sessões
espirituais.
O
assunto é complexo e sua abordagem é delicada porque, tal como no campo
das oferendas, algumas coisas mudam de pessoa para pessoa e o que é
certo e necessário para uma não é para outra força (ou outro poder).
Comecemos por definir o que é força e poder:
• Usamos a palavra força para o que é espiritual ou provem do espírito.
• Usamos a palavra poder para o que é divino ou provem da divindade.
O
que é espiritual não é divino e vice versa. Logo, é necessário que
usemos as palavras que diferenciem e classifiquem corretamente as
entidades que formam o lado invisível da criação e que estão dando
sustentação a Umbanda.
•
Poder é algo permanente, estável e realiza-se por si só na vida de seus
beneficiários, não dependendo de nada além de Deus para influir sobre
tudo e todos em seu campo ou faixa de atuação.
•
Força é algo transitório, instável e em permanente evolução, as vezes
mostrando-se em seu estado potencial e outras mostrando-se em atividade,
sempre dependendo da existência do poder para ser colocado em movimento
e beneficiar-nos.
Há diferença entre poder e força e entre divindade e espírito.
A divindade é o poder, o espírito é a força!
A
divindade realiza-se por si na vida dos seres porque é em si a ação,
enquanto o espírito só pode e consegue agir sobre os seres se a
divindade lhe conceder poderes para tanto.
Tomemos
como exemplo o Orixá Ogum e os Caboclos de Ogum, para que não fiquem
dúvidas quanto as diferenças que existem entre poder e força.
•
Ogum é Orixá ordenador da criação e modelador do caráter e da moral dos
seres, visto que ele é o poder em si manifestado por Deus para atuar
sobre tudo e todos ao mesmo tempo sem que nunca perca seu poder se
atuação; nunca se enfraqueça; nunca deixe de ser onipotente, onisciente e
oniquerente.
Ogum é o poder de Deus em ação permanente, imutável e intransferível; o que Ogum faz só Ogum pode e consegue fazer.
Ele
independe de algo mais de Deus para ser o que é ou como é, e nada
posterior ou inferior a ele influencia-o ou altera esse seu estado de
ser e de poder.
Ele
modela o caráter e a moral dos seres. Independentemente de sua vontade,
sua influencia se faz sentir na própria consciência de todos os
transgressores das leis divinas e humanas, não importando se conhecem ou
não Ogum, pois “ogum é um dos nomes humanos já dados a esse poder, que
já recebeu outros nomes e no futuro receberá outros.
Tenha
o nome que lhe for dado, ainda assim ele continuará a ser o que é: o
poder modelador do caráter e da moral dos seres e o ordenador divino dos
procedimentos.
O
poder de Ogum é inalterável, estável, permanente e independe de um nome
para atuar sobre tudo e todos em sua faixa ou campo de atuação na
criação.
Isso, para nós, é o poder e está bem definido!
Quanto a força pegamos como exemplo para defini-la os Caboclos de Ogum, para que fique bem claro o seu significado.
Um
Caboclo de Ogum é um espírito em constante evolução consciencial e, a
partir dessa sua evolução, novos campos ou faixas de atuação vão lhe
sendo abertas pelo Orixá ou poder Ogum.
Quanto
mais o Caboclo de Ogum evolui e se aperfeiçoa consciencialmente, maior é
o seu campo de ação e maior é seu poder de atuação sobre outros seres
espirituais, aos quais ampara, direciona e modela no caráter e na moral.
Enquanto atua de dentro para fora dos seres, o Caboclo de Ogum atua de fora para dentro.
• O poder realiza-se por si só.
• A força só se realiza por intermédio de algo ou de alguém.
• O poder tem atuação permanente e atua “por dentro” das coisas ou dos seres.
• A força tem atuação limitada no tempo e atua “por fora” das coisas ou dos seres.
O poder regula a natureza, seja a de um ser ou do meio em que ele vive, proporcionando-lhes estabilidade e equilíbrio interior.
A força altera essas naturezas, proporcionando-lhes alterações e reequilíbrios ou adaptações exteriores.
Em
um meio cuja a natureza é fria, tal como as regiões próximas dos pólos,
vivem seres (animais, aves, peixes, plantas, etc.) específicos dele. Já
nós, os seres humanos, se quisermos viver nessas regiões, temos que
construir moradias especiais; temos de cobrir nosso corpo com roupas
especiais e temos de trazer de longe alguns artigos indispensáveis à
nossa sobrevivência.
•
A natureza terrestre é regulada pelo poder. Nós recorremos à força para
alterarmos o meio natural de alguma forma, adaptando-o externamente às
nossas necessidades porque, “internamente”, as regiões polares sempre
serão frias e não conseguiremos mudar esse seu “estado”.
Recorrendo
a esse exemplo, podemos diferenciar o poder e a força porque enquanto
poder ele faz os pólos serem como são e esta, enquanto força, só pode
alterá-lo se criar adaptações para que os seres não pertencentes à sua
natureza neles sobrevivam.
O
poder de Ogum, por modelar de dentro para fora, faz com que os meios
sejam como são, cada um com sua natureza específica. E o mesmo faz os
seres, proporcionando uma natureza intima especifica para cada espécie.
• Os peixes são como são.
• As aves são como são.
• Os bichos são como são.
Vivendo
em seus habitats naturais, são hoje como eram no passado pré-historico e
esse “modo de ser” de cada espécie permaneceu inalterado ao longo dos
tempos. Se ocorreram mudanças, elas foram “por fora”, para adaptá-los a
algumas mudanças físicas e climáticas.
Conosco também ocorreu isso e “internamente” somos os mesmos que éramos quando Deus nos criou.
Nossa natureza íntima permaneceu inalterada e, se ocorreram mudanças, foram externas.
•
O poder modela as coisas (natureza, seres, espécies inferiores, etc) de
dentro para fora, dando-lhes um estado específico que é permanente,
diferenciando umas das outras e qualificando-as.
•
A força entra em ação quando as alterações exteriores começam a
descaracterizar as coisas, desqualificando-as ou desequilibrando-as.
Por
isso Ogum (o poder) tem nos espíritos graduados como instrumentos da
lei suas forças, que são colocadas em ação sempre que as atuações de
dentro para fora já não são suficientes para manter o equilíbrio.
É
nesse ponto, nessa necessidade da atuação de fora para dentro, que os
espíritos (a força) adquirem importância e tornam-se indispensáveis para
a manutenção do equilíbrio entre o lado interior e o lado exterior dos
seres, dos seres e da própria criação como um todo.
Como
o lado divino da criação atua de dentro para fora e os Orixás vivem no
seu lado divino, foi preciso a criação de algo que permitisse a
exteriorização desse poder e sua colocação em ação a partir do próprio
meio em que os seres vivem.
Dessa
necessidade surgiram os santuários naturais, os templos, os altares, os
assentamentos, as firmezas, as oferendas, as imagens, os instrumentos
mágicos, etc.
Não
se trata de animismo, de paganismo, de idolatria, de fetichismo etc.,
mas de formas de exteriorização do poder para que melhor ele possa nos
auxiliar e nos beneficiar “dentro” do próprio meio em que vivemos.
Como
nosso assunto são assentamento de poderes e de focas pelos médiuns e
dirigentes espirituais umbandistas, cremos que está justificado o ato de
assentarem os orixás e guias espirituais para que melhor possam ajudar
as pessoas necessitadas desse auxilio adicional que Deus nos franqueou e
colocou à nossa disposição.
Um
assentamento é um local especial porque nele há um portal
“tridimensional” que interage de forma permanente entre as três
dimensões ou lados da vida: o lado divino, o natural e o espiritual.
Essas
três dimensões ou lados da vida já interagem de forma permanente nos
santuários naturais consagrados aos poderes e às forças e neles podemos
entrar e trabalhar em nosso benefício ou no dos nossos semelhantes.
Mas
em nossa casa ou em nosso centro, aí se faz necessário o auxilio dos
assentamentos para que os três lados possam interagir e realizar ações
corretas em benefício dos necessitados, sem que estes tenham de ir até a
natureza continuamente.
Assentam-se forças divinas, naturais e espirituais.
Esses
assentamentos são importantes porque são em si portais
multidimensionais e interagem com realidades de vida ainda desconhecidas
por nós, os espíritos encarnados.
Mas,
como afirmamos no inicio dessa introdução, uma das maiores dificuldades
dos médiuns e dirigentes umbandistas reside nesse campo porque há um
grande desconhecimento sobre assentamentos e firmezas dos poderes e
forças que sustentam e se manifestam por intermédio da religião e da
mediunidade dos seus praticantes.
• Um assentamento é algo abrangente e envolve todo um poder.
• Uma firmeza é algo mais limitado e concentra-se em uma entidade, seja ela divina, natural ou espiritual.
Firma-se
um Orixá, um ser da natureza ou um espírito! Agora, um assentamento é
algo tão abrangente que ele por si só é realizador e é capaz de dar
sustentação a todas as ações realizadas dentro do campo abrangido por
ele: o Centro de Umbanda.
O que é um assentamento?
Assentamento
é o local onde são colocados alguns elementos com poderes magísticos,
com a finalidade de criar um ponto de proteção, defesa, descarga e
irradiação.
Um
assentamento pode ser destinado a uma só força ou poder ou a várias.
Mas, em geral, faz-se um para cada força ou poder que se deseja
assentar.
- Por que assentar uma força ou poder?
Bom,
as forças vivem no plano espiritual e os poderes vivem no plano divino
da criação, e, a partir deles, enviam-nos suas vibrações, auxiliando os
trabalhos espirituais que são realizados nos Centros de Umbanda.
Esse
auxílio é natural porque se processa religiosamente. Mas, como em um
trabalho espiritual vem pessoas com poderosas cargas negativas, é
preciso que exista no plano material pontos de descarga que possam
absorvê-las e enviá-las de volta à faixas vibratórias negativas.
Esta é um a das funções de um assentamento de força e de poderes.
A
entidade assentada (Orixá ou Guia Espiritual) tem no assentamento
elementos com poderes mágicos, os quais utiliza ativando-os segundo as
necessidades do Centro, do trabalho espiritual e dos médiuns.
Em
regra, faz-se um assentamento central e daí em diante começa a firmeza
de outras forças ou de outros poderes ao seu redor, aumentando seu campo
de ação e de atuações.
Se
é o assentamento de um Orixá, outros não devem ser assentados ao redor
ou ao lado dele, porque cada um é um poder realizador em si mesmo, e
dois ou mais assentamentos dentro de um mesmo ambiente criam dois pontos
distintos que farão a mesma coisa e o recomendado é que, caso alguém
queira assentar dois ou mais Guias ou Orixás, então deve reservar um
ambiente para cada um, separando-os e isolando-os para que suas
vibrações, irradiações, ações e atuações não se misturem e não se
confundam. Por isso existem os assentamentos e a firmezas.
Os
assentamentos criam vórtices ou “pontos de forças”, enquanto as firmeza
de outros guias e Orixás dotam-no de um maior poder de realização.
Esse
aumento de poder de realização deve-se ao fato de que os Guias e os
Orixás firmados ao redor do assentamento central “emprestam-lhe suas
forças e poderes e abrem-lhe seus campos de ações e atuações, aumentando
o leque de opções ao Guia ou ao Orixá assentado, que lhe repassará
atribuições às quais exercerão com desenvoltura, porque terão no
assentamento um poderoso ponto de descarga, de proteção e de auxílio nas
suas ações mais profundas.
Normalmente
se assentam o guia-chefe e o Orixá regente da coroa do dirigente
espiritual, assim como ao seu Exu e/ou sua Pombagira guardiã.
• Os assentamentos do Guia-Chefe e do Orixá devem estar localizados dentro da cosntrução que abriga o terreiro.
•
Os assentamentos do Exu e/ou da Pombagira guardiã devem ser feitos do
lado de fora da construção principal que abriga o terreiro, ainda que
também possa estar dentro de outra construção de menor porte.
O
ideal ( ainda que isso nem sempre seja possível) é que os assentamentos
dos Orixás e dos Guias-Chefes da direita e da esquerda se localizem em
cômodos isolados e com acesso restrito, inacessível ao público.
Quando
o centro não tem espaço para tanto, aí o recomendado é que assentem o
Orixá e o guia-chefe da direita sob o altar e o Exu e/ou a Pombagira
guardião em uma casinhola na entrada do terreno que abriga o terreiro.
Centros
localizados em terrenos e construções amplas tem mais facilidade para
fazê-los. Já nos menores, aí é preciso um pouco de criatividade para
fazer os assentamentos e as firmezas ao redor.
O que é uma Firmeza?
A firmeza de uma força ou de um poder; pode ser feita ao redor de um assentamento ou independente dele.
Firmar
um guia espiritual ou um Orixá significa proporcionar-lhe condições
mínimas para que tenha um ponto fico onde receba os pedidos de auxilio;
de oferendas, etc.
A
firmeza assemelha-se a um assentamento, mas tem menos recursos ou
poderes de realização, pois é uma simplificação dele e destina-se a
facilitar a atuação das entidades.
Um
assentamento cria um vórtice e um campo eletro-magnético que interagem
com outras dimensões da vida de forma permanente, sendo em si um “ponto
de força” localizado nas dependências do terreiro.
Enquanto
uma firmeza cria um ponto de sustentação para as ações da entidade
firmada, dando-lhe um pouco mais de segurança para que possa resistir às
reações das suas atuações em beneficio das pessoas necessitadas do seu
auxilio.
• Um assentamento assemelha-se a uma fortaleza que abriga um exército completo, com todas as suas divisões.
• Uma firmeza assemelha-se a instalação avançada de uma divisão.
No assentamento estão todas as divisões, na firmeza está somente uma ( a da entidade firmada).
• Um assentamento é algo definitivo, uma firmeza pode ser transitória.
• Um assentamento deve ser iluminado de forma permanente e deve ser alimentado periodicamente com elementos predeterminados.
Uma firmeza pode ser iluminada periodicamente e pode ser realimentada de vez em quando.
Um
assentamento deve ter um dia definido na semana para ser iluminado e
realimentado; já uma firmeza, deve ser iluminada e realimentada sempre
que o seu zelador fizer um novo pedido de auxilio à entidade firmada.
Assentamento
e firmeza são similares e a segunda é uma simplificação do primeiro,
mas tem as mesmas funções, que é protegerem, sustentarem e ampararem
algo ou alguém.
Fonte: Rituais Umbandistas - Rubens Saraceni - Ed. Madras